O que podemos fazer para erradicar a pobreza? Ela existe e bate à nossa porta todos os dias. A encontramos pelas ruas. Ela perfura o exterior e depois o interior da pessoa. O que diz o que deveras é a pobreza é o contato com o mais “pobre dos pobres”. Questão sempre difícil de responder. A pobreza tem muitas feições, que se revestem pela falta de educação, saúde, moradia, trabalho, comida, lazer, salários dignos, e antes de tudo de uma séria e necessária compreensão do que é a pessoa e sua dignidade.
Jesus Cristo foi profundamente realista quando disse: “Sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes o bem” (cf. Mc 14,7). Ele era ciente do que estava presente no coração humano quando não se convertia à vontade de Deus. Vejamos outra cena onde Ele faz um apelo ao jovem rico que queria a vida eterna, alargando a vivencia dos mandamentos e exigindo outra atitude: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que possuis e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me. O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens” (cf. Mt 19,16-22). Enquanto todos os homens não se converterem ao Evangelho, não será erradicada a verdadeira pobreza dos seres humanos. Jesus sabia como a realidade injusta e deprimente podia ser mudada, erradicando assim o pecado social da pobreza pela via individual. O Reino de Deus precisa ser anunciado para que haja mudança das estruturas escravizantes (cf. Mc 1,15). Os instrumentos ideológicos e estratégicos do marxismo faliram. Não reconheceram que o ser humano nunca será só uma classe. Antes disso, é ele, uma pessoa com todos os seus atributos subjetivos, como a inteligência, vontade, emoção, espírito, que se objetivam mediante a liberdade exercida conscientemente, que se substancia e é substanciada no tempo e no espaço.
Em meio à crise econômica com sua racionalidade especulativa e apartada das reais problemáticas que afligem a pessoa com suas misérias e necessidades e, por isso, tão preocupante ao equilíbrio da economia global, o Papa Bento XVI lembra que “a economia e as finanças, enquanto instrumentos, podem ser mal utilizadas se quem as gere apenas tiver referimentos egoístas. Deste modo, é possível conseguir transformar instrumentos de per si bons em instrumentos danosos; mas é a razão obscurecida do homem que produz estas conseqüências, não o instrumento por si mesmo. Por isso, não é o instrumento que deve ser chamado em causa, mas o homem, sua consciência moral e sua responsabilidade pessoal e social”(cf. Caritas in veritatem, n. 36).
A erradicação da pobreza para ser buscada na atualidade deve pensar esta dimensão antropológica que é extremamente urgente: O mais miserável dos miseráveis que em todos os lugares e nos lugares todos precisa ser cuidado e respeitado na sua mais profunda dignidade. É o humano que é chamado em causa como centro da justiça distributiva que imediatamente garante os bens imediatos à subsistência dos indivíduos e a justiça social que elabora os princípios para os males sociais sejam detectados e extirpados paulatinamente das camadas sociais excluídas das nossas comunidades, sociedades e nações. O processo é realista porque parte sempre da pessoa bem circunstanciada com suas pobrezas que, se sabe, estão na ordem sistêmica de todos os países.
Finalmente, lembro o discurso de Jesus no evangelho de Lucas, com suas prerrogativas sociais, quando afirma: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Felizes vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados” (cf. 6,20-21). Enquanto isto, continuemos a lutar contra esta mazela que ofende à dignidade dos filhos de Deus. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco de São José de Mipibú-RN
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