quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A VIVÊNCIA COM MINHA MÃE: UM ENSINAMENTO PARA VIDA - PROFESSORA REJANE

Após um período de 30 anos morando em Natal, retornei para viver com minha genitora e zelar pela saúde dela. Era início de 2007. No começo, muitas dúvidas permeavam essa decisão, tão radical para uns; tão sábias, para outros. Todavia, o que parecia ser difícil devido às travessias diversas de cada uma, constituiu-se em um crescendo pleno de cumplicidade, que só existe entre mãe e filha. E eu que, ingenuamente, pensava que só havia pontos de afinidades entre eu e meu pai, já falecido há 17 anos, me percebi na natureza de minha mãe e ela na minha natureza. Os pontos convergentes, nesse curto, porém significativo seis anos dividindo o mesmo espaço foram maiores que os divergentes. Aos poucos, ela foi se incorporando ao meu mundo e ao meu estilo de vida. Um respeito recíproco e sábio. E, diante da minha profissão de formação docente, onde o trabalho faz de mim uma “marinheira” em cada município, ela, com sua personalidade dominadora de canceriana nata, passou a administrar meu tempo, meu horário de alimentação e outros setores do meu curto cotidiano em casa. De personalidade independente, a princípio, resisti a toda a essa proteção materna, porém gradativamente, compreendi que aquela atitude de minha mãe era a forma mais genuína dela expressar o seu amor por mim. E desse momento em diante, passei a curtir junto com ela pequenas grandes coisas: o cuidado com o jardim, o zelo por suas galinhas, perus, a paciência com os latidos bruscos de Maia, a cachorrinha de estimação dela. Mas o ensinamento maior e mais doloroso de todos eles foi o de saber conviver com o quadro inconstante das várias patologias que minha querida mãe tinha. Esse quadro ajudou a aprofundar meu lado humano do cuidado, da atenção, da tomada de decisão imediata. E durantes esses seis anos, convivemos com internamentos, idas e vindas a pronto-socorro, a compreensão a sua mudança de humores. No entanto, a sua personalidade frágil pela doença contradizia-nos diante de suas ações diárias, acordava cedinho para: colocar comidas para as galinhas, aguar o jardim, fazer o café da manhã e outras providências domésticas. Isso era uma espécie de ritual que ela realizava com imenso prazer. Não teremos mais a sua companhia, Deus, em sua infinita sabedoria, aliviou-a dos sofrimentos terrenos, mas o seu ensinamento de doação ao próximo e disposição em oferecer comida como símbolo de amor se eternizarão em nossa memória.

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