sábado, 29 de junho de 2013

A NECESSIDADE DE RETIRAR-SE - POR PADRE LENILSON


Os presbíteros da Arquidiocese de Natal farão próxima semana seu Retiro anual. Quando falamos em retiro espiritual temos que vê-lo como uma oportunidade para “ficar com Cristo” num lugar a parte: “Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele” (Lc 9, 18).  Fazer retiro espiritual não é algo fácil, principalmente nos dias atuais quando somos cercados de todos os tipos de “ruídos” e onde podemos projetar sobre nós mesmos os holofotes das redes sociais com suas “curtidas” a cada segundo. Quem quer perder a última notícia sobre os protestos no Brasil? Quem não deseja dar sua opinião para as centenas ou milhares de amigos do Facebook?  E as fotos dos amigos distantes, dos familiares, das viagens etc. Além disso, o retiro supõe encontro, o que gera o desejo de saber como o outro estar, de compartilhar suas alegrias ou de apoiar alguém em suas dores. Parece-nos um atraso também ficar distante uma semana de nossas atividades cotidianas, e assim por diante.

Diante de tudo isto é que se faz mais premente o “retirar-se para um lugar deserto”. Deus nos fala a todo tempo e em qualquer lugar – não podemos limitar a ação de Deus – mesmo em meio a uma multidão agitada, contudo há uma predileção de Deus por dialogar no deserto, isto é, onde há silêncio. Os escritores espirituais – sobretudo os santos – são testemunhas irrefutáveis da necessidade de parar para ouvir a voz de Deus. Um exemplo emblemático é o do profeta Elias: “O Senhor desse a Elias: “Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: Ele vai passar. Nesse momento passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: Que fazes aqui, Elias?”(I Reis 19, 11-13). Elias fugia e, ao mesmo tempo, se consumida de zelo pelo Senhor porque os israelitas haviam abandonado a Aliança. Elias deveria retornar ao mundo para preparar seu sucessor Eliseu, porém no meio da confusão ele não conseguia ouvir e entender a vontade de Deus. Se fosse hoje talvez pudéssemos dizer: Elias amava muito a Deus, o servia de todo coração (zelo), mas o ativismo o havia desgastado e consumido sua energias espirituais. Ele precisava de um tempo, de um retiro, de uma terapia (“brisa suave”) para poder ouvir com mais clareza: “que fazes aqui Elias?” Notemos que Deus não pergunta: quanta coisa fizestes aqui, Elias?, mas “o que fazes aqui?”A atenção de Deus durante o retiro de Elias na gruta e na montanha é para o seu profeta, não para suas atividades. Só depois é que o Senhor lhe dirá: “Retoma o caminho do deserto, na direção de Damasco. Ali chegando, ungirás Hazael como rei da Síria, Jeú, filho de Namsi, como rei de Israel, e Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar” (I Reis 19, 15-16).

A pergunta “que fazes?” nos lembra uma outra feita por Javé-Deus a Adão:  “onde estás?” ( Gn 3,9). O retiro deve ser encarado como uma oportunidade para respondermos a estas duas questões antropológicas fundamentais: “O que é o homem, e o homem de Deus?” e “onde ele está, o que faz de sua vida?”. Se tivermos a coragem de “entrar no quarto e fechar a porta” de madeira, do smartphone e, principalmente, do coração para o “fogo”, a “ventania”, o “terremoto” do mundo exterior, certamente poderemos retornar a ele mais revigorados para cumprir nossa missão de sacerdotes e profetas. Ao contrário, nada adiantará o tempo e o dinheiro empregados, pois quem não se enche de Deus – na intimidade com Cristo – pode falar muito, mas comunica pouco. Que Deus nos ajude a todos!



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